segunda-feira, 21 de julho de 2014

Capitulo 1



E' dificil ser sincero em um mundo onde tudo e' motivo para rótulos e classificações. Eu não posso dizer o que penso, voce não pode dizer o que pensa, eu não posso deixar de me preocupar com sua condição de existência, e voce não pode me deixar em paz.

Eu nao posso falar eu te amo,
nao posso dizer o que desejo,
nao posso ter o que quero, não posso ser quem eu quero, não posso ter as minhas verdades,
meus objetivos, meus caminhos, meus sonhos, meus amores,
rancores, tristezas, alegrias, desinteresses e lampejos.

A verdade e' que depois de um tempo me alterando,
para encaixar-me nos mais diversos grupos de convívio, me peguei sem identidade.
Nao sei o que eu amo, o que eu desejo e pra quem quero.
Nao consigo muitas vezes decidir se saio de casa,
se fico em casa. Se sorrio, se choro ou se ignoro.

Penso que quando tenho que repensar tudo isso,
o poço esta' ficando mais fundo e estou mergulhando com tudo.
O Abismo... que saudade de voce algumas vezes meu colega.
No entanto eu ja' não converso com aquela Dona do salto alto,
que um dia me veio visitar e em uma branda conversa me deu opções:
escolha entre ti e o que te confunde.
escolha entre ti e o que te parece artificial,
escolha entre ti e a dor do desentendimento,
da ma' impressão, da solidão das noites cheias e barulhentas,
das palavras vazias, dos sorrisos forçados, da escravidão social.

Fiz minha melhor escolha e re-aprendi.
Hoje talvez eu veja sob uma ótica diferente e confesso que eu poderia ter feito melhor,
poderia enganar melhor a mim mesmo, poderia ter pedido desculpas,
poderia ter sido compreensível, eu poderia ter sido muita coisa.

Mas nao fiz, talvez por orgulho. Talvez por falta de coragem,
ou por que voce não deixou.
Eu queria ter de tudo, mas vivem me mostrando que eu não tenho nada.
Se torna complicado buscar significados,
quando voce cresce sendo desconstruido,
alheio ao ambiente.

O ultimo sobrevivente da guerra contra desejos inalcançaveis.

Nao posso me dar o luxo de complicar demais meus pensamentos,
eles me consomem de uma maneira que voce não entende.
Eu sinto que nao posso guarda-los.
Tenho que de certa forma dizer.
Nao existe luta pior do que aquela em que para derrubar o inimigo,
voce e' obrigado a se machucar.
Esses sou eu.
Sou muitos. E nao quero nenhum deles ferido.
Mas voce ja' imaginou como e' lutar contra voce?
como e' chorar ao anoitecer por algo que não fez? Ou fez, mas foi um desses.
Voce sabe que voce não e' assim, mas foi voce quem fez. Ou não foi?
por uma memoria de quase 18 anos?
por um pedido de desculpas?
por uma briga que ocorreu ha 15 anos, mas cada detalhe permanece na sua cabeça,
por um choro alheio que te comoveu?
por um ato de bravura que distorceu todo o seu trajeto?
por ter que abandonar amigos?
por ter sido julgado e condenado sem nunca saber do direito de se mover. E viver.
Livre.


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